Quem somos

Alternativas em Comunicação: unindo a teoria à prática numa perspectiva humanista e consciente

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‘Um povo ignorante é o instrumento cego
de sua própria destruição’
Simon Bolívar


Apresentação

Arte: Helana Gurgel (email: helana@gmail.com)
Arte: Helana Gurgel

Consciência.Net é uma revista eletrônica diária que nasceu em maio de 2000, idealizada por Renato Kress e Gustavo Barreto, à época estudantes da segunda série do Ensino Médio do Colégio Cruzeiro, no Rio de Janeiro. O motivo: uma vontade grande de divulgarem seus ideais e sua indignação em relação à situação política, social, cultural e econômica pela qual passava o País. É a juventude “que não aceita demitir-se da cidadania para se satisfazer com o papel passivo de cliente ou consumidor de coisas”, nas palavras do escritor Chico Alencar.

Com o tempo, perceberam que a crise era geral e — pior — estrutural. O capitalismo, vigente há mais de 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. Enquanto isso, quatro cidadãos dos EUA — Bill Gates, Paul Allen, Warren Buffett e Larry Ellyson — concentram em suas mãos uma fortuna equivalente ao Produto Interno Bruto de 42 países pobres, com uma população de 600 milhões de habitantes.

Veja também a questão da infância e adolescência: mais de 10 milhões de meninos e meninas do mundo morrem de doenças passíveis de serem prevenidas, 600 milhões delas vivem na pobreza e mais de 100 milhões — na sua maioria meninas — não vão a escolas. A maioria dos quase 200 milhões de crianças e jovens menores de 18 anos da América Latina, do Caribe, dos Estados Unidos e do Canadá vive na pobreza.

Essa sociedade não só tem uma formação histórica injusta, mas se mantém injusta por conta de uma elite intelectual distante do povo, uma elite financeira descomprometida com o fim das desigualdades e uma elite política demagógica e representante de interesses muito mais privados do que públicos.

O nome da revista é emprestado do primeiro livro de Renato Kress, “Consciência”, que foi lançado quando este tinha 18 anos. Hoje, Kress é formado em Ciências Sociais pela PUC/RJ e professor, e Gustavo Barreto é formado pela Escola de Comunicação Social da UFRJ e estudante de Direito na UNIRIO.

O Projeto

Um meio de comunicação que também seja comprometido com as comunidades locais, consciente dos problemas regionais e globais e que, por fim, não abandone conceitos acadêmicos. Essa é a proposta da revista eletrônica Consciência.Net, criada há mais de quatro anos e que pretende introduzir um novo olhar — mais profundo e humano — acerca da realidade cotidiana, bem como do processo histórico e sociológico.

É nesta perspectiva que são construídas a estrutura organizacional (seções, composição editorial etc.), a linguagem gráfica e a própria linguagem. Neste trabalho é demonstrado como ocorre essa permanente construção e quais os principais conceitos que influenciaram na formação ideológica e técnica de seus construtores.

Além disso, a revista se insere decisivamente no contexto de desenvolvimento da chamada “Nova Mídia”, que inseriu desafios para a visão tradicional de Comunicação — principalmente quando se fala de Jornalismo e conceitos como “imparcialidade” e “neutralidade”. Acompanhando de forma atenta a chamada “Cibercultura”, a revista tem aproveitado efusivamente os benefícios de tais inovações e criticado de forma contundente seus usos inadequados e prejudiciais à democracia. Os diversos colaboradores da publicação se baseiam exatamente na democracia e na confiança nesta nova mídia para reafirmar que se pode voar mais longe, atingindo mais pessoas e preservando o direito à opinião, à boa informação e à interpretação.

Ao observar — na academia e no senso comum — lições do passado, exemplos do presente e projeções, pretendemos mostrar que é possível juntar estes diversos fatores e se manter estável, mesmo em meio ao caos informacional pelo qual passa o século XXI. Antes de buscar matérias “exclusivas” ou “furos jornalísticos”, pretendemos organizar as informações em uma ordem lógica para que o leitor possa se situar no espaço e no tempo, hoje um tanto quanto confusos por conta do excesso de informação.

A revista se posiciona de forma clara ao lado do ser humano — quer ele esteja em comunidades locais, movimentos sociais, organizações de trabalhadores, etc. — e com esta perspectiva constrói um jornalismo que toma partido a favor dos excluídos e se debruça sobre temas como desigualdade social e causas da pobreza. Entende a observação de Venício A. de Lima quando diz que “todas as teorias das comunicações necessariamente contem, implícita ou explicitamente, uma teoria social” (LIMA: 2001, p.29). Em vista disso, partimos do princípio que não é apenas o esclarecimento ideológico que alimentará a transformação social, mas também a atitude consciente baseada neste esclarecimento. Unindo pensamento, sentimento e ação à técnica jornalística e acadêmica.

Quem somos

A revista possui um Conselho Editorial Consciência (CEC) rico em ideias, com pessoas de mais de dez Estados brasileiros e cinco países. São sociólogos, educadores, comunicadores, advogados, terapeutas, psicólogos, entre outros. Mais detalhes você encontra no nosso Expediente.

Embasamento teórico-conceitual

A disposição de assuntos na revista Consciência.Net não é meramente aleatória. Uma das primeiras e mais importantes seções é “Cidadania”, pois entendemos que a luta dos trabalhadores pelo direito de exercer sua cidadania é permanente.

A palavra em si — Cidadania — pretende englobar o conceito de “Política” no seu sentido mais amplo, mas preocupa-se em não afastar o público que mais precisa se conscientizar acerca de nossa realidade e que possa ter algum tipo de preconceito — compreensível, diga-se — em relação à Política tal como é praticada hoje.

O conceito de Cidadania que utilizamos, sempre vinculado à idéia de direitos, tem como referência o livro de T.H. Marshall — “Cidadania, classe social e status”[1] —, literatura clássica das ciências sociais, no qual são três as dimensões básicas da cidadania, adicionando-se uma quarta e essencial dimensão:

1. Direitos civis: aqueles que asseguram a vida, a liberdade, a igualdade e a manifestação de pensamentos e movimentos das pessoas que integram uma sociedade regida por leis. Daí a importância dada às questões sobre a mídia, o combate à fome, a defesa dos movimentos sociais e da diversidade étnica, cultural etc. e as ações afirmativas, entre outras seções e subseções.

2. Direitos políticos: aqueles que dizem respeito à participação dos cidadãos no governo de sua sociedade — voto, entidades e órgãos de representação popular. Neste sentido a revista opta por priorizar a divulgação de formas de participação popular no Brasil e no mundo e de entidades e instituições que estejam fortalecendo tais formas.

No Brasil, os direitos da infância são sistematicamente ignorados
No Brasil, os direitos da infância são sistematicamente ignorados

3. Direitos sociais: Nascidos no século XX (segundo a sociologia que nos serve de referência), são aqueles que garantem condições de vida e trabalho aos cidadãos de uma sociedade, assegurando-lhes uma certa participação na riqueza e bem-estar coletivos. Educação, saúde e trabalho — não por acaso três das mais destacadas seções da revista — forma uma espécie de tríade fundamental dos direitos sociais, não deixando de ser, em algum nível, direitos civis. Além disso, estes direitos transcendem os cálculos econômicos de custos e possuem uma dimensão cultural muito mais ampla.

4. Direitos ecológicos: pode-se argumentar que são estes os mais amplos. Uma “nova perspectiva planetária, ética e ecológica da humanidade”[2], como expressa bem Leonardo Boff, se faz essencial à própria sobrevivência dos seres humanos. É, no fundo, o direito à Terra – e caso uma nova consciência ecológica não seja posta em prática, deixaremos para nossos netos um futuro sombrio.[3]

Proporcionar uma consciência mais plena sobre tais direitos é uma busca permanente e uma luta diária que estamos dispostos a travar. Como afirma Paulo Freire na “Pedagogia do Oprimido”, ao testemunhar objetivamente sua história, “mesmo a consciência ingênua acaba por despertar criticamente para identificar-se como personagem que se ignorava”. É chamada a assumir seu papel como protagonista da História. Diz ainda a obra: “O mundo da consciência não é criação, e sim elaboração humana. Esse mundo não se constitui na contemplação, mas no trabalho”.[4]

Objetivos do trabalho

Um dos objetivos da revista Consciência.Net é buscar a versão mais próxima da verdade. E ponto final. Algumas publicações jornalísticas se prezam pela “neutralidade”, o que se costuma chamar de imparcialidade. Não acreditamos nisso. O jornalista é um sujeito preocupado com o esclarecimento dos acontecimentos. Compromisso com a verdade não é sinônimo de imparcialidade.

Quando destacamos a palavra Verdade, não estamos falando do ideal platônico de Verdade; estamos apenas dizendo que nosso lema, em última análise, é não mentir ou omitir a fim de obter ou moldurar uma determinada linha de pensamento. O caminho é inverso: a linha de pensamento é dada de acordo com as informações que obtemos. E é importante acrescentar: quanto maior o número de informações relevantes sobre determinado assunto, melhor, pois mais contextualizado estará este assunto.[5]

Não vamos cair no erro maniqueísta de avaliar um determinado fato por meio das pessoas ou de instituições envolvidas. Sabemos que pessoas erram. Igualmente, nenhuma instituição é absolutamente boa ou ruim. Analisaremos, portanto, atitudes e ideologias. Compromissos e ideais centrados nos direitos humanos e em uma sociedade mais igual. Este é o nosso compromisso: o ser humano. Esta revista não pretende reproduzir o real; apenas uma versão do real. Esse, como sabemos, varia de acordo com o olhar de cada um, e estamos prontos a respeitar isso.

Informação que faz pensar

Valorizamos um jornalismo que provoque reflexão e que dê instrumentos ao leitor para que este pense por si próprio, e que não seja guiado por editoriais ideológicos, pouco factuais e por vezes sofistas. Portanto, a maior parte dos textos expostos na Consciência.Net são — na nossa visão — analíticos. Textos que não “envelhecem” rapidamente. Textos que não são apenas notícias para entreter e preencher despreocupadamente o tempo livre do leitor. Não raro, nosso leitor prestigia igualmente os últimos textos e os arquivos da revista.

Algumas informações ditas ‘atuais’ são, em verdade, um mesmo processo observado outrora, e só desconhecido por ignorância de textos não tão ‘atuais’, mas que dizem muito mais de situações recentes. Isto ocorre exatamente porque a situação noticiada pode ser a mesma descrita em outro momento – só que com sujeitos diferentes.

A seguir, transcrevemos trecho do livro de Pierre Bordieu, “Sobre a televisão”[6], bastante elucidativo:

“Na sua lógica específica de um campo orientado para a produção desse bem altamente perecível que são as notícias, a concorrência pela clientela tende a tomar forma de uma concorrência pela propriedade, isto é, pelas notícias mais novas (o furo) — e isso tanto mais, evidentemente, quanto se está mais próximo do pólo comercial. As pressões do mercado não se exercem senão por intermédio do efeito de campo: de fato, muitos desses furos que são procurados e apreciados como trunfos na conquista da clientela estão destinados a permanecer ignorados pelos leitores ou pelos espectadores e a ser percebidos apenas pelos concorrentes (sendo os jornalistas os únicos a ler o conjunto dos jornais…).

Inscrita na estrutura e nos mecanismos do campo, a concorrência pela propriedade atrai e favorece os agentes dotados de disposições profissionais que tendem a colocar toda a prática jornalística sob o signo da velocidade (ou da precipitação) e da renovação permanente.[i] Disposições incessantemente reforçadas pela própria temporalidade da prática jornalística que, obrigando a viver e a pensar no dia-a-dia e a valorizar uma informação em função de sua atualidade (é o “viciado em atualidades” dos jornais televisivos), favorece uma espécie de amnésia permanente que é o avesso negativo da exaltação da novidade e também uma propensão a julgar os produtores e os produtos segundo a posição do “novo” e do “ultrapassado”.[ii]

Notas de Bordieu:

[i] É através das restrições temporais, impostas muitas vezes de maneira puramente arbitrária, que se exerce a ‘censura estrutural’, praticamente despercebida, que pesa sobre as palavras dos convidados na televisão.

[ii] Se a afirmação “é ultrapassado” pode hoje tão freqüentemente fazer as vezes, e bem além do campo jornalístico, de toda argumentação crítica, é também que os pretendentes apressados têm um interesse evidente em empregar esse princípio de avaliação que confere uma vantagem indiscutível ao recém-chegado, isso é, ao mais jovem, e que, sendo redutível a algo como a oposição quase vazia entre o antes e o depois, dispensa-os de mostrar suas capacidades.

Nós — como todos — erramos, e é exatamente por isso que estamos abertos a todos os comentários críticos. A Consciência.Net é, em grande parte, resultado de críticas feitas com bom senso. Esta é a nossa hierarquia: bons argumentos. Nosso conselho editorial é formado por todos os leitores dispostos a contribuir na busca da melhor informação possível, publicada da melhor forma possível.

Resultados

Como reconhecimento de quatro anos de trabalho duro, a revista tem conquistado um público cada vez mais amplo. Diversas das iniciativas da Consciência.Net produziram resultados concretos e trocas importantes dentro da nossa extensa comunidade, entre leitores, redatores e simpatizantes da causa. Por meio de fóruns virtuais e, mais recentemente, físicos, é cada vez maior o âmbito de pessoas que busquem se humanizar e, assim, humanizar o mundo.

Como imprensa alternativa, temos acompanhado com destaque alguns temas que a grande imprensa insiste em negligenciar, como foi o caso da tentativa de construção, por parte da prefeitura do Rio, do Museu Guggenheim em uma área central da cidade. A revista saiu na frente, acompanhando o caso desde o começo, e chegou a ser citada por agências noticiosas do exterior. Em outros temas mais comuns, como a questão agrária e o noticiário econômico, a revista se destaca, com alguns poucos meios de comunicação, ao oferecer uma visão alternativa ao pensamento único e distante da vida real das pessoas.

Projeção

Apesar de reconhecer que, em termos ideológicos, o esforço da Consciência.Net está sendo a duras penas recompensado, a revista projeta uma necessidade de profissionalização dos trabalhos. Marketing, Jornalismo e Tecnologia da Informação são algumas das áreas que precisam deixar o amadorismo e entrar em uma nova fase em que a produção possa ser sistematizada. Além disso, a revista identifica uma necessidade de procurar novas formas de financiamento, para que possamos ao menos manter uma equipe de trabalho permanente, dando maior solidez à publicação.

Por se manter independente ideologicamente, a viabilização financeira da revista é um de seus maiores desafios. Outro cenário igualmente desejável e viável é a ampliação das formas de comunicação, passando da Internet para meios impressos, audiovisuais e radiofônicos.

Contatos

Leitura recomendada

Quais são os mecanismos sociológicos e psicológicos que vêm tornando a prática da injustiça social, a prática da violência corporativa e social, uma constante banalizada dentro do fenômeno de massificação da cultura e do comportamento? A análise é de Renato Kress

“Fala de combate à fome através de um assistencialismo estatal minguado, mas nem longinquamente toca no padrão de acumulação que gera uma sociabilidade atravessada pela pauperização absoluta. Nada sobre uma reorganização do sistema de produção e consumo, para começar a erradicar na raiz a miséria, nada sobre a implementação de uma política salarial que coibisse a superexploração daqueles assalariados que estão empregados (…)”. Que governo é esse? Saiba no texto de Renato Kress.

O Brasil não é um país pobre. Pobreza você encontra na África. O Brasil é um país injusto e desigual. A desigualdade brasileira é estrutural. Ela não será mudada caso o brasileiro não se incomode realmente com a desigualdade, qualquer situação realmente incômoda, se deixada à sua própria sorte, tende a chegar a um grau de insuportabilidade que gera a ação necessária para se resolver o incômodo. O problema está na passividade com que o brasileiro vem aceitando a desigualdade. A análise é de Renato Kress.

A renda média de um habitante da Europa é de US$ 25 mil dólares por ano, enquanto que na Etiópia — que, assim como a França, está a 149,6 milhões de quilômetros de distância do Sol — não chega a US$ 100. Veja o raciocínio de Gustavo Barreto.

Texto de apresentação

Arte: Helana Gurgel.
Redação: Gustavo Barreto & Renato Kress.
Revisão: Helana Gurgel & Raquel de Almeida Moraes.

Notas

[1] A referência foi tirada, na verdade, do livro de GOMES, Angela Maria de Castro. RJ: Jorge Zahar E., 2002.

[2] “Auto-limitação, virtude ecológica”, Leonardo Boff. https://revistaconsciencia.com/arquivo/2003/05/24/boff.html

[3] Sobre esse assunto, ler o livro “Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres”, de Leonardo Boff.

[4] Introdução à obra, do professor Ernani Maria Fiori, escrito em dezembro de 1967. Referência: FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido, 17a ed. RJ: Paz e Terra, 1987.

[5] Sobre esse tema leia os artigos “Jornalismo Platônico” e “Por que o Jornalismo Propositivo?

[6] BORDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Tradução: Maria Lúcia Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. Págs. 106 e 107

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