Quanto custa a felicidade?

Tudo nesta vida tem um preço. Se é caro ou não, é uma questão de avaliação pessoal. Entendo que tudo aquilo de material que conseguimos comprar com dinheiro tende a ser mais fácil de ter, do que aquilo que temos que conquistar e manter, inclusive a felicidade.

Ainda vivemos sob uma ótica absurdamente materialista, onde muitos acreditam piamente que a plena felicidade não existe. E talvez não exista mesmo para aqueles que assim pensam, até porque este é um conceito muito pessoal e o caminho certo para encontrá-la nem sempre é fácil, mas garanto que tem sinalizações ao longo da estrada indicando a direção certa. O viajante é que nem sempre enxerga as placas!

Constantemente, encontro pessoas que se lamentam por não ter tal carro, ou não morar em determinado lugar. Dificilmente encontro pessoas que lamentam sinceramente não ter amigos ou não ter família, por exemplo. E quando falo em amigos, refiro-me a amigos de verdade. Mas estas pessoas existem e nem mais se pronunciam por medo de ser taxadas de chatas ou “baixo astral”. É que inventaram que o politicamente correto é ser “pra frente” e demonstrar estar sempre de bem com vida.

Mas, na busca da felicidade, ou do que entendemos que ela seja, acabamos engolindo sapos e até brejos inteiros, que muitas vezes seria até desnecessário. Por medo de não sermos aceitos, aceitamos coisas que nos violenta terrivelmente. Penso que se alguém realmente gosta da gente, poderia se esforçar em não nos violentar com imposições. Em contrapartida, também poderíamos ser mais francos, dentro dos limites da educação. É uma corda-bamba delicada, mas que só com a vivência aprendemos a atravessá-la, equilibrando-nos.

Posso citar várias situações onde a busca da felicidade é deixada de lado, talvez por medo de não conseguirmos pagar o preço do “pacote”. As situações mais claras e comuns estão na vida familiar e na vida profissional. Conheço mulheres que possuem casamentos desastrosos, mas que os mantém só pela preservação da família ou por puro comodismo mesmo, acreditando que o resultado disso seja a própria felicidade. Em compensação, conheço homens que mal se lembram do nome da esposa, mas que vão levando a vidinha à dois por medo de perder as regalias domésticas que acreditam ter. Estas pessoas abdicam de ter uma vida sentimental mais intensa e, se fossem perguntadas se são felizes e se fossem responder que sim, certamente deveriam responder que são contentes. Ser feliz é diferente de estar contente! O mesmo acontece na vida profissional. Muita gente acaba aceitando trabalhar uma vida inteira naquilo que detesta só pelo dinheiro, que geralmente é pouco. Normalmente, quem possui uma profissão ou um ofício que não lhe traga prazer, acaba sendo medíocre no que faz. Entendo que este é um custo muito alto para se arcar!

Certamente, uma das condições para atingirmos a plena felicidade, ou chegarmos perto dela, é o autoconhecimento. Quem não se conhece não sabe o que quer, e, assim, qualquer caminho acaba servindo. Também temos que aprender a observar o mundo ao redor, pois a vida nos dá sinais o tempo todo quanto à direção que estamos seguindo. Observando o mundo, acabamos aprendendo, adquirindo conhecimento e experiência. Mas, tem gente que acredita que ter conhecimento e uma visão clara de mundo só atrapalhe nesta busca. Lembro-me de uma frase jocosa do cronista Sérgio Porto que dizia “que o sujeito para ser feliz na vida tinha que nascer burro, viver ignorante e morrer de repente.”. Esta é uma questão para ser muito bem analisada!

Também é muito comum aquelas pessoas que acreditam que conseguirão sua felicidade comprando coisas e pessoas, incluindo aí sentimentos e até o amor verdadeiro (?). Assim, entendem como o “custo” o preço financeiro que terão de desembolsar. O triste, para estas pessoas, é quando a vida mostra que em determinados momentos o dinheiro não serve para nada. Aí, estas pessoas caem num abismo colossal e, levantar dele, acaba sendo sempre muito penoso e de “custo” elevadíssimo.

O conceito de felicidade, já frisei, é estritamente pessoal. Tem gente que acha que ser feliz é poder comer de tudo sem engordar. Outros, colocam sua felicidade nas mãos de Deus, mas não fazem nada para conquistá-la, querendo que Deus a traga sem nenhum esforço ou suor. Logo, cada um que busque descobrir, dentro de si, o que lhe faz realmente feliz. Mas, certamente, arcar com os “custos” dessa busca, normalmente, é para poucos. Há muito medo, insegurança e desconhecimento nessa viagem e percebo que poucos têm realmente coragem de seguir em frente. Eu estou viajando. Comprei a passagem a prazo e o check-in foi demorado….

O autor é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.

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