Para não ter mais dúvidas sobre onde estão os bandidos no Rio de Janeiro

É isso o que o Governo do Estado do Rio de Janeiro chama de “autonomia com responsabilização”: dá o cargo para qualquer bandido e retira eles só depois que, por exemplo, uma juíza independente que estava acabando com quadrilhas inteiras de grupos de extermínio é morta, cruelmente morta.

Não era só a juíza Patrícia Acioli que estava ameaçada, nem era a primeira vez que queriam matá-la. Um inspetor da Polícia Civil de São Gonçalo também estaria marcado para morrer por “distorcer” os registros de auto de resistência – quando o PM diz que houve morte em confronto, uma aberração jurídica internacional. Por conta disso, este inspetor deveria “levar um rodo” dos próprios policiais – traduzindo, deveria ser assassinado. O tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do 7o BPM e do 22o BPM (São Gonçalo e Maré), teria dito sobre ele: “Covardia se combate com covardia”.

Cláudio Luiz é o principal acusado de ser o mentor do assassinato da juíza Patrícia, que estava combatendo com afinco os maus policiais. Não havia impunidade com ela, que exigia frequentemente que os envolvidos com autos de resistência não voltassem ao policialmente de rua e ficassem trabalhando em atividades internas, até o fim da investigação. Já Cláudio Luiz comandava os Batalhões por indicação política. No Governo de Sergio Cabral, de José Mariano Beltrame, do coronel Mário Sérgio Duarte.

O carro da juíza Patrícia Acioli. Foto: Severino Silva / Agência O Dia

É isso o que eles chamam de “autonomia com responsabilização”: dá o cargo para qualquer bandido e retira eles só depois que, por exemplo, uma juíza independente que estava acabando com quadrilhas inteiras de grupos de extermínio é morta, cruelmente morta.

As informações acima são de policiais que começam a revelar indícios preciosos em troca de proteção do Estado e redução da pena. Um cabo revelou, por exemplo, que policiais recebiam de 10 a 12 mil reais semanalmente – dinheiro este fruto do recolhimento de drogas e dinheiro de traficantes da região de São Gonçalo. A prática tem até nome: “espólio de guerra”. Quando a “arrecadação” era grande, uma parte deste ‘espólio’ era entregue para Cláudio Luiz, parceirão do coronel Mário Sérgio Duarte e de Beltrame. Ou a “autonomia” era tanta que nem eles o conheciam?

E tem mais: o policial que deu o endereço da juíza deve ser absolvido, opinou um defensor público, pois estava apenas cumprindo ordens e achou que havia de fato uma investigação da própria juíza Patrícia. Estava de fato cumprindo ordens. Superiores. De comando.

Existe – ninguém duvida – um grave e histórico problema dentro da polícia carioca e fluminense, cujos níveis de corrupção e violência são alguns dos maiores do mundo, insuportáveis, não importando se estão baixando a conta-gotas. No entanto, sem resolver a crise de comando que existe no Governo do Estado, a crise dentro da PM nunca vai acabar. É preciso não dar “autonomia” a qualquer governante incompetente, no próximo pleito eleitoral.

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