Moradores da Cruzada São Sebastião cobram Clínica de Saúde da Família dentro da Comunidade, conforme prometido pelo prefeito Eduardo Paes

Em julho de 2010 o atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro Eduardo Paes fez uma visita a Cruzada São Sebastião no Leblon. Na ocasião foi colocada a dificuldade de um número grande de moradores de vencer a distância até o Hospital Municipal Miguel Couto e ao posto de saúde Píndaro de Carvalho na Gávea. Antes de deixar a comunidade o prefeito Eduardo Paes prometeu aos moradores presentes e ao presidente da Associação de Moradores da Cruzada São Sebastião (AMORABASE), Joel Nonato, que instalaria uma Clínica de Saúde da Família dentro da cruzada.

Cinco meses depois mesmo com alguns impasses quanto ao espaço físico onde era cogitada a instalação da clínica, já existia uma equipe composta por um Clínico Cardiologista (Dr. Ricardo), uma enfermeira (Isabelle) uma técnica de enfermagem (Amanda), além de vários agentes comunitários de Saúde, entre eles Cláudio e Maria do Socorro atuando na comunidade. Em janeiro deste ano os moradores da Cruzada São Sebastião já estavam comemorando a conquista, lançando inclusive no jornal da associação de moradores a seguinte matéria de capa: “Cruzada São Sebastião ganha Clínica Médica de Família.”

Orgão informativo da Associação de moradores da cruzada São Sebastião. Ano 1 número 1, janeiro de 2011
Orgão informativo da Associação de moradores da cruzada São Sebastião. Ano 1 número 1, janeiro de 2011

Porém, a situação atual é outra. O último informe a chegar à associação dos moradores foi que a intenção da prefeitura é implantar a Clínica da Família em anexo ao mesmo posto de saúde já reclamado pelos moradores que fica mais longe da comunidade que o Hospital Miguel Couto.

Segundo uma das agentes, os agentes comunitários já estão tendo que se locomover até o posto para começar e terminar o dia de trabalho, coisa que até então estava sendo feita na própria comunidade.

A prefeitura alega que não existe na comunidade um espaço o qual possa ser adquirido para que ela instale a Clínica, por isso ela terá que fazê-lo a dois km de distância. No entanto o projeto da Clínica da Família é trazer o serviço de saúde para próximo da população, se a clínica for implantada no posto de saúde cuja principal reclamação dos moradores daquela comunidade é à distância a ser vencida, não fará diferença nenhuma na situação atual e será uma descaracterização do projeto e, portanto, um gasto desonesto do dinheiro público.

Construção dos muros da Cruzada São Sebastião. Foto da web.
Construção dos muros da Cruzada São Sebastião. Foto da web.

A resposta dos moradores veio do 7º bloco, que aprovou através de um abaixo assinado, abrir mão da área comum no térreo para ser cedida a prefeitura, por meio de seção de uso, para implantar a clínica dentro da comunidade. Mediante a informação recebida da AMORABASE o síndico do 7º bloco Valdir Legal da Silva entregou a ouvidoria da Secretária Municipal de Saúde via internet a seguinte contestação:

“Acreditando na promessa do atual prefeito Eduardo Paes, após uma visita a nossa comunidade, esperava-se com muita ansiedade a implantação da Clínica da Família dentro da Cruzada São Sebastião. (Leblon)

Após intensa movimentação da comunidade para esta implantação, Conseguimos um espaço especificamente no 7º bloco, que teve a aprovação de 98 % dos moradores do mesmo, para a utilização.

Muito nos surpreendeu a intenção da prefeitura de implantar a referida clínica, anexada ao posto de saúde Píndaro de Carvalho na Gávea que fica aproximadamente 2,0 Km (em torno de 25 min.) de distância da nossa comunidade.

Venho como morador da comunidade e sindico do 7º bloco desde já manifestar o meu descontentamento e dos condôminos, com essa intenção da prefeitura, que só virá a prejudicar principalmente os idosos, cadeirantes, gestantes e outros acamados de nossa comunidade.”

Extinta favela da Praia do Pinto. Foto da web
Extinta favela da Praia do Pinto. Foto da web

A instalação dessa unidade da Clínica de Saúde da Família dentro da comunidade é uma necessidade para a cruzada que conta com um número muito grande de idosos, pessoas que moram aqui desde 1957, dois anos depois da “inauguração em 29 de outubro de 1955.

A Cruzada São Sebastião nasceu de um convênio firmado entre o então presidente da República Café Filho e Dom Hélder Câmara, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com esta iniciativa pioneira, Dom Hélder começava o ambicioso projeto de erradicar em dez anos as 150 favelas existentes na cidade do Rio de Janeiro.

A Arquidiocese do Rio de Janeiro conseguiu, através de Dom Hélder Câmara, a doação pela Marinha do terreno com frente no Jardim de Alah para a construção das moradias. Com material e mão de obra cedida por empresas do ramo da construção civil, foram construídos dez blocos de apartamentos com sete andares cada um. Esses imóveis não foram doados às famílias e sim vendidos, através de financiamento em 15 anos, com prestações mensais de 10% a 15% do salário mínimo, dependendo do tamanho do apartamento.

O projeto beneficiou 910 famílias selecionadas na antiga favela Praia doPinto, situada num terreno vizinho, onde se encontra hoje o conjunto de prédios chamado Selva de Pedra. A favela Praia do Pinto, então a maior favela da zona sul (40 000 habitantes em 1964) permaneceu no lugar até 1969, quando as famílias, desalojadas por um incêndio, foram removidas e instaladas em conjuntos habitacionais ( Cidade Alta de Cordovil, Cidade de Deus, Vila Kennedy e Maré.) – Maiores informações no site do Museu da Cruzada –

Apesar das dificuldades do cotidiano, a maioria dos moradores gosta de estar residindo na comunidade. Pessoas famosas que nasceram ou viveram na Cruzada São Sebastião deixam os moradores orgulhosos de sua história. “É o caso, por exemplo, do jogador de futebol Adílio e da atriz e cantora Zezé Motta, que até desenvolveu um trabalho de teatro no local.”

Hoje com uma população de cerca de 4 mil habitantes, muitas das pessoas que vieram da praia do pinto, formam o conjunto de idosos da comunidade, que mesmo com a dificuldade e todo o peso da idade batalham todos os dias contra as escadas dos blocos, que apesar de terem 7 andares cada um, nenhum deles tem um elevador. Esses idosos são quem mantém viva a história da Cruzada São Sebastião. E em respeito a esses idosos, seus filhos, netos e bisnetos, que os moradores, os síndicos dos dez blocos da Cruzada e a AMORABASE, avisam que se preciso vão por “os blocos na rua” para que o prefeito cumpra a sua promessa e instale dentro da comunidade uma Clínica de Saúde da Família.

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