Brasil – Grito por um novo amanhecer: das “balas perdidas” à mira certeira

“Virá o dia em que todos
ao levantar a vista
veremos nesta terra
reinar a Liberdade.”

Como se tem realizado em mais de vinte edições precedentes, desde meados dos anos 90, o GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUÍDAS, reunindo multidões pelo Brasil a fora, volta a acontecer, neste SETE DE SETEMBRO DE 2017.

Não bastassem os múltiplos e danosos efeitos acarretados, cotidianamente, pelo bombardeio do noticiário midiático brasileiro, importa ter sempre presente o risco de uma convivência resignada com as trágicas ocorrências resultantes das imprópriamente denominadas “balas perdidas”. Esdrúxulas, sob os mais distintos aspectos, as estatísticas relativas aos índices de assassinatos, no cotidiano da população brasileira. Ultrapassam, de longe, as estatísticas de vítimas de guerras, registradas em vários países declaradamente em guerra.

Um rápido exame das estatísticas fornecidas pelos organismos oficiais – nacionais e internacionais – é suficiente para nos darmos conta de nossa espantosa situação. Com efeito, não podemos nem devemos fechar os olhos ao fato de que, por ano, são assassinadas, no Brasil, em torno de 60 mil pessoas, número distribuído – e isto não se dá por acaso! – especialmente por alguns segmentos de nossa população, entre os quais: mulheres (feminicídio), jovens, negros, vítimas fatais da homofobia, entre outros.

Nossa sensação de tragédia – e tragédias anunciadas – só aumenta, ao reconhecermos que a esta escabrosa estatística, somam-se númerosas outras, relativas a conflitos agrários, tráfico de pessoas, trabalho escravo, precarização das condições de trabalho, grilagem de terras indíginas, de comunidades quilombolas, de reservas ambientais, de agravamento das mais distintas formas de violência social (inclusive, graças à sofisticação da produção, comércio e tráfico de armas), às distintas formas de agressão às águas oceânica, aos rios, às florestas, ao subsolo, as plantações, e ao conjunto dos inventes, numa clara expressão do crescimento da concentração de riquezas e das desigualdades sociais.

Tais registros trazemos à tona, na véspera do Sete de Setembro, quando se tem feito ouvir, pelas ruas e praças do País, O GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUÍDAS, desde meados dos anos 90, conscientes de que tal clamor há de estender-se ao cotidiano de nossas lutas. De olho, por conseguinte, nesta realidade assombrosa, somos históricamente instados a responder, com esperançamento, a estes desafios. Somos instigados, enquanto seres vocacionados à Liberdade a ousar ensaiar oasis, rumo à superação desta conjuntura de terror. Este constitui o objetivo-mor das presentes linhas.

O que está por trás das “balas perdidas””?

Indignar-nos é, sim, um primeiro passo, no esforço conjudado de uma resistência. Mas, bem sabemos,, é preciso ir além da mera indignação e mesmo além de atos de resitência. Atos de fecunda resistência podem começar pela tentaiva de examinar o que está por trás das “balas perdidas”. Nesse sentido, que nos ajudem a um exercício crítico indagações do tipo:

– Das armas de quem partem as “balas perdidas”? Que tipo confroto mais favorece ocorrências desta ordem?
– Qual o perfil dominante dos contendores? Que história de vida costumam apresentar os protagonistas desses embates?
– Que condições existenciais concretas lhes foram e são asseguradas pelo modelo vigente de organização societal?
– Quem são, na maioria dos casos, as principais vítimas dessas “balas perdidas”? A que classe pertencem, em sua grande maioria?
– Quais as condições familiares, comunitárias lhes foram ou lhes são asseguradas: de moradia, de trabalho, de escolaridade, de vida comunitária, de prestação de serviços públicos de saneamento, de saúde, de inserção comunitária, de participação enquanto cidadã(o), etc?
– A quem têm como referência ético-política, na atual conjuntura?
– Flagrados ou não como infratores, que destino lhes é reservado, além das escolas de crime em que se tem tornado nosso sistema prisional?
– Que forças sociais são históricamente protagonistas de ensaiarem passos alternativos ao modelo vigente?
– Essas forças sociais têm realmente assumido, de modo coerente, suas tarefas históricas?

Calibrando a mira, rumo a um novo amanhecer.

Como acima assinalado, sem desconsiderar a importância do conhecimento dos impasses presentes na atual conjuntura, nosso objetivo central é o de ousarmos ensaiar passos rumo à superação dos atuais desafios. Consciêntes de que esta é uma tarefa fundamentalmente das classes populares, cuidamos de perguntar:

– Nossas organizações de base como tratam de enfrentar os atuais desafios? Sem ignorarem os graves fatores externos responsáveis pelos profundos estragos econômicos, politicos, culturais, éticos, ecológicos, etc., presentes no atual quadro histórico, têm avançado também no reconhecimento e no adequado enfrentamento de sua parcela de responsabilidade na produção desses estragos?
– Quanto ao processo organizativo, que passos fundamentais vêm sendo ensaiados, na perspectiva de retomada das lutas sociais, no campo e na cidade, cujo os frutos atestem o acerto desta retomada, em novo estilo?
– No tocante à tarefa formativa que iniciativas mais recentes tem sido sido ensaiadas por estas mesmas forças sociais, no sentido de potencializar suas energias transformadoras, rumo à construção de um novo modo de produção, um novo modo de consumo e um novo modo de gestão societal?

João Pessoa, 06 de setembro de 2017.

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