Blogs, wikis e a organização em rede

O atual entusiasmo pelos blogs é curioso, uma vez que trata-se basicamente de uma página pessoal”. A análise é de Glyn Moody, publicada na Netcraft – uma tradicional empresa no ramo da Internet, pioneira em diversos estudos sobre a rede –, durante o ano de 2004, quando a “febre” dos blogs teve início na maior parte dos países com razoável taxa de acesso à Internet (incluindo o Brasil, a Índia e outros países emergentes).

Embora o fenômeno dos blogs tenha se iniciado em 1997, experiências parecidas – uma página com links e hipertextos selecionados em ordem cronológica inversa – poderiam ser encontradas já em 1993.

Uma das novidades dizia respeito, evidentemente, ao fato de que agora era possível publicar informações sem necessariamente ser um grande conhecedor de complexos códigos e linguagens como o HTML. Bastaria preencher alguns espaços e, a partir de conhecimentos técnicos relativamente antigos, seria possível ser lido e participar da dinâmica da rede. As primeiras empresas surgiram com força, no Brasil, entre 2000 e 2001, mas de fato só alcançarem seu auge em 2004. Antes do advento dos blogs, a empresa Yahoo já possuía um popular serviço de publicador, que no entanto não possuía o formato de blog. O Geocities era uma página simples, mas já com possibilidade de utilizar imagens simples (e ainda sem vídeos ou galerias de imagens).

Hoje, no entanto, os blogs oferecem mais ferramentas do que ofereciam em 2004 – ainda assim, apenas uma pequena parte das possibilidades tecnológicas já disponíveis na Internet. Trata-se, sobretudo, de uma tentativa de organizar o dilúvio de informações disponíveis na rede mundial de computadores.

Atualmente, existem tantos blogs na Internet que já há serviços de busca voltados exclusivamente para eles, como o Technorati, que agrega quase 2 milhões de blogs e inclui serviços como o Newstalk, com um resumo dos principais temas que estão sendo comentados nos blogs em todo o mundo. Há também uma lista dos 100 principais blogs em todo o mundo, selecionados a partir de referências cruzadas (acesso, comentários etc), uma espécie de Google dos blogs.

Esta troca constante de informações entre os próprios blogs se tornou uma constante – a ascensão da blogosfera, “que está se tornando perigosamente autorreferencial”, afirma Moody.

Em um contexto em que os blogs elaboram, como norma, uma “promoção mútua frenética”, afirma o autor, o Wiki surge como um oásis de ponderação razoável. A ideia original é de 1995, elaborada por Ward Cunningham, que agora trabalha para a Microsoft. A ideia que fundamenta o Wiki é o mais importante, no entanto. Em certo sentido, o Wiki é para o blog o que o código aberto [open source] é para o software proprietário: um esforço do comum, em que a dinâmica de grupo, e não a liderança individual, influencia decisivamente o resultado.

Como uma lista dos maiores Wikis demonstra, o exemplo mais bem acabado é a Wikipédia, uma enciclopédia online de conteúdo aberto criada em março de 2000 por Jimmy Wales e Larry Sanger – originalmente com o nome de Nupedia, com poucos colaboradores, e ganhou seu atual nome em 2001. É mantida por uma organização denominada Wikimedia Foundation. Está em 257 idiomas ou dialetos, com um total de 3,5 milhões de verbetes (“sociedade da informação” é um deles). A Enciclopédia Britannica, a título de comparação, tinha 28 mil verbetes, apenas em inglês. Quase 14 milhões de pessoas colaboram com a plataforma.

A revisão, no entanto, é o grande diferencial. Existe uma página inicial para cada verbete, porém por trás da estrutura – desde que o usuário esteja registrado, o que é feito gratuitamente – é possível acompanhar a discussão sobre aquele determinado artigo (o conjunto de colaborações), editar e visualizar a história daquele artigo (o desenvolvimento do verbete, com o registro do autor e da data de cada colaboração). Registra-se que o Wikipédia já teve informações censuradas em países de distintas matizes políticas, como China e Inglaterra.

“A seriedade e a alta qualidade da maior parte dos conteúdos do Wikipédia enfatiza a força principal dos Wikis: o trabalho conjunto na busca por melhorar o conteúdo que servirá para todos”, afirma Moody. Esse lógica contrasta com a do blog, em que uma – raramente mais de uma – pessoa oferece suas “brilhantes e peculiares ideias sobre temas muitas vezes contrastantes”.

REFERÊNCIAS

MOODY, Glyn. Of blogs and wikis. Netcraft, Bath (Inglaterra), 13 mai. 2004. Disponível em http://news.netcraft.com/.

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