Atualidade de Comblin

José Comblin, sociólogo, um dos maiores expoentes vivos da Teologia da Libertação, define o que seja a ação cristã.

“A ação cristã vai buscar a pessoa esquecida, a pessoa que não cabe dentro das estruturas e das categorias e coloca essa pessoa no centro da atenção. Trata-se de um descobrimento da pessoa negada pela sociedade estruturada e estabelecida. A ação social da Igreja é sempre a busca da ovelha perdida. Trata-se de reabilitação pública e efetiva dos rejeitados, reabilitação e acesso ao estado de pessoa do pecador numa sociedade imbuída de valores morais, do não observante numa sociedade religiosa, do escravo numa sociedade escravocrata, do desocupado numa sociedade de trabalho, do homem sem capital numa sociedade capitalista, da mulher numa sociedade machista, do louco numa sociedade de sábios, das crianças numa sociedade adulta, de todas as fontes de insegurança numa sociedade baseada na segurança, dos hereges numa sociedade de ortodoxos, dos doentes numa sociedade de atletas.

A libertação não consiste numa mudança de estruturas sociais, o que teria por conseqüência a pura substituição de certos grupos dominantes por outros sem mudar o valor fundamental que é a segurança. Uma humanidade livre é uma humanidade que se deixa interpelar por todas as pessoas que não lhe oferecem nenhum interesse, nenhum valor, que não oferecem nenhum poder novo, nenhuma garantia, mas apenas riscos e ameaças de perturbação. A partir dessa prática iniciada por Jesus, o Espírito inventou e suscitou uma história de liberdade da qual conhecemos apenas a aurora e que será o tecido do desenvolvimento do reino de Deus neste mundo.”

Estas palavras, extraídas do livro de José Comblin, A liberdade cristã (Ed. Paulus, 2009), expressam o que significa o seguimento de Jesus. Muito mais do que uma questão de crenças, trata-se de uma questão de opção pelos “perdedores” do sistema. As pessoas a quem o sistema não dá lugar. Aqui podem ser citadas ações como a da Terapia Comunitária, que busca, como diz o teólogo e sociólogo, trazer de volta a pessoa esquecida. Ações com esta orientação, voltadas para a inclusão social, multiplicam-se nos dias de hoje por toda parte, mostrando um leque vasto de iniciativas que vão além do âmbito de uma reliçião ou de uma confissão. Saõ movimentos de uma humanidade que se volta para a sua própria origem. É uma humanidade que se busca a sí própria, no reencontro com o diferente que me completa por oposição.

É a busca de uma vida mais integrada, mais participativa, mais solidária.

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