Por Gustavo Barreto, da redação
Fernando Rodrigues fez um texto estranho em seu blog. Na nota “Avião tocou no ponto correto da pista e continuou em linha reta e alta velocidade”, afirmando que “o comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), Juniti Saito, recebeu informações dos funcionários da torre de controle do aeroporto de Congonhas atestando que o Airbus A-320 da TAM tocou a pista no local correto ao tentar aterrissar. Por alguma razão, disseram os funcionários, o avião continuou em alta velocidade”.
Dá a entender que a culpa poderia ser do piloto, apesar dos claros indicativos de que a pista de Congonhas é “precária” e estava “inacabada”, conforme mostramos contundentemente neste Consciência.Net.
Rodrigues afirma a todo o momento que a “informação é pendente” ou coisas do tipo, mas acha que isso é notícia. Quem disse? A FAB não se pronunciou, então seria uma “exclusiva”. De quem? Não sabemos, mas mesmo assim ele diz que “essa é a primeira informação técnica disponível [?], por enquanto, a respeito do acidente com o vôo 3054”. E parece ainda achar que é notícia quando se exalta: “As informações preliminares (atenção: preliminares!) [sic] dão conta de que o Airbus da TAM seguiu em linha reta até praticamente o final da pista, sem frear nem perder a direção”.
Ok, preliminares. Então é notícia? Mas quem as deu? “Informação técnica” antes mesmo da FAB se pronunciar? Quais técnicos estão envolvidos nesse “laudo”? Gostaria honestamente de saber.
Até porgue Rodrigues parece engajado em desqualificar a versão de deslize por causa das condições da pista: “Como choveu nos últimos dias em São Paulo, haveria também a hipótese de aquaplanagem – o avião deslizando sobre uma fina lâmina de água. Mas essa hipótese parece não fazer sentido porque o avião ficou em linha reta quase até o final da pista”.
O mais engraçado (ou triste) é que Saito considera, segundo nota oficial, que “seria uma precipitação fazer qualquer avaliação ou afirmação taxativa no momento”. Então, insisto, de quem é esta informação? Vou cobrar, por curiosidade. Me parece mais uma “quebra de hierarquia”, não?
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A TAM é uma vergonha na reação à crise. Negaram claramente informação sobre os passageiros do vôo – aos próprios passageiros em Porto Alegre! –, levando ao desespero alguns dos familiares em potencial, que aguardavam no Aeroporto Salgado Filho. Pediam para ligar para o 0800 e se ouvia repetidamente gritos de pessoas com nervos à flor da pele: “Mas eles não atendem”. E não atendem mesmo, confirmam reportagens sobre o tema, devido à enorme demanda. À 1h25 reconheceu o erro e divulgou os nomes.
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Reportagem na Folha de hoje (18) informa que os controladores confirmam que a falta do grooving – ranhuras que facilitam o escoamento de água – prejudica os pousos. E registra também que “o piloto do Airbus A-320 da TAM foi alertado duas vezes pelo operador da torre de controle que era preciso pousar com cautela porque a pista principal do aeroporto de Congonhas, zona sul de São Paulo, estava “molhada e escorregadia.” Garoava no momento do acidente. A Folha apurou junto a controladores de tráfego aéreo que participaram da degravação feita pela perícia do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) que o aviso foi dito entre três minutos a quatro minutos antes de a aeronave ter recebido autorização para pousar”.
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O sociólogo Sergio Domingues comenta: “O que eu sinto é um cuidado muito grande em não falar da responsabilidade das empresas. Acho que foi uma irresponsabilidade generalizada e covardia do governo Lula diante dos militares, mas a pressão dos interesses comerciais com certeza pesou muito. Há algum tempo a estrutura do aeroporto de Congonhas não é suficiente para a demanda criada. 75% do PIB nacional são controlados por São Paulo. É óbvio que a demanda é enorme. As companhias aéreas então transformaram Congonhas num centro por onde passava o grosso das viagens, mesmo as regionais. Isso barateia as viagens, mas sobrecarrega o aeroporto. Isso foi denunciado pelos controladores e publicado na Carta Capital. Agora, novamente essas coisas devem ser esquecidas sob a montanha de depoimentos emocionados, porradas no governo, debates sobre aerodinâmica e declarações oficiais que são sempre oficiosas”.
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Acidente aéreo e jornalístico: “Nesta manhã, recebi uma mensagem do professor Vinícius Andrade Pereira, na lista de discussão da Compós, questionando se nosso colega Denilson Lopes Silva estava de fato no triste acidente com o vôo da Tam. A pergunta se justificava pois o Globo Online noticiava seu falecimento.” Mais aqui.
Não há marcas visíveis de derrapagem ao final da pista ou na grama que se segue, então qualquer coisa que se diga agora é pura especulação. Por favor, vamos aguardar os primeiros resultados da investigação antes de condenar qualquer pessoa ou entidade.