De Leonard Swidler ao ex-colega de universidade Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI

Caro Joe,

Alguns anos atrás, quando você ainda era o chefe do Santo Ofício (da Santa Inquisição), que se acha, como você sabe, mais calma em seu prédio sombrio justo ao lado da Praça de São Pedro, eu lhe escrevi uma carta aberta sobre o papel das mulheres na Igreja Católica. Naquela ocasião, eu me dirigi a você com um familiar “Caro Joe”, baseado em nossa relação do final dos anos 60/inícios dos anos 70, quando eu era um assíduo professor visitante na Faculdade Católica de Teologia da Universidade de Tubinga, da qual você era professor ordinário. Assim agi pensando que essa forma de tratamento poderia dizer-lhe da minha forte expectativa, de que você pudesse abrir sua mente e seu coração para escutar o que eu queria dizer-lhe. Não tenho como saber se consegui algum tipo de sucesso, se é que obtive algum, quanto àquele olhar. No entanto, com base na colegialidade anterior, trato de abordá-lo, mais uma vez, de modo fraterno.

Estou preocupado pelo fato de que, especialmente nos últimos anos, você tem dado sinais de oposição às palavras e ao espírito do Concílio Vaticano II, durante o qual você, como um jovem e influente teólogo ajudou a conduzir nossa amada Igreja Católica, da Idade Média para a Modernidade. Depois, enquanto professor da Universidade de Tubinga, nossa “Alma Mater”, você, junto com seus demais colegas da Faculdade Católica de Teologia, defendeu publicamente 1) a eleição dos bispos pelos seus constituintes, e 2) limite de idade para o ofício de bispos (ver o livro “Bispos democráticos para a Igreja Católica Romana” http://institute.jesdialogue.org/ecumenical_press/democractic_bishops).

Agora – http://www.nytimes.com/2012/04/06/world/europe/pope-assails-disobedience-among-priests.html?ref=world – você está repreendendo publicamente a padres católicos leais, fazendo exatamente o que você antes defendia, de modo tão nobre. Eles e muitos, muitos outros através da Igreja Católica universal estão seguindo seu exemplo jovial, tentando desesperadamente encaminhar nossa amada Mãe Igreja mais em direção à Modernidade. Eu uso de forma deliberada a palavra “desesperadamente”, pois em sua própria pátria, a Alemanha, e em outras partes da Europa, as igrejas estão vazias, e são tantos os corações católicos que ouvem as palavras nada encorajadoras de Roma e de bispos “radicalmente obedientes”. Em meu próprio país, Estados Unidos, berço da liberdade moderna, dos direitos humanos e da democracia, nós perdemos – apenas na atual geração! – um terço de nossa população de Católicos, 30.000.000, porque cinco das promessas feitas pelo Vaticano II como pontos copernicianos 1. em relação à liberdade, 2. em relação ao mundo presente, 3. em relação ao sentido da história, 4. em relação à reforma interna, e sobretudo 5. em relação ao diálogo, foram deliberadamente abortadas pelo seu predecessor e agora de forma intensa por você.

Joe, você ficou conhecido como um dos teólogos do Concílio Vaticano II que promoveram a convocação feita pelo Papa São João XXIII ao aggiornamento (atualização) por meio de uma reforma espiritual voltada às revitalizadoras fontes originais (refontização!) do Cristianismo (ad fontes!). Aquelas fontes democráticas, amantes da liberdade da Igreja Primitiva eram exatamente as fontes da renovação que eram preconizadas por você e por seus colegas da Universidade de Tubinga.

Eu estou a exortá-lo a retornar àquele original espírito de reforma de sua juventude. Esse espírito agora me vem à lembrança, quando dos preparativos da comemoração dos 50 anos do “Journal of Ecumenical Studies” (JES), lançado em 1964 por Arlene, minha querida esposa e por mim. No primeiríssimo número de JES encontram-se artigos assinados por seu amigo e colega de Vaticano II, o teólogo Hans Küng, e por você próprio(!), olhando para a ponte sobre o Golfo “Counter-Reformation que separava a Igreja Católica do resto do Cristianismo e, por certo, do resto do mundo moderno.

Joe, nesse espírito, eu o exorto a retornar às suas fontes de reforma. Volte ad fontes!

Pax!

Len
Leonard Swidler, Ph. D., S.T.L.
Professor de Pensamento Católico e Diálogo Interreligioso, Temple University
Co-fundador da Associação para os Direitos dos Católicos na Igreja
(Trad. Alder J.F.Calado)

Deixe uma resposta